segunda-feira, 9 de julho de 2012

Está bem

Queria dizer que Mas não vou dizer porque Por isso não Diz-me o que Fica Deixa-te de Porque é que Porquê Fala-me de Não deixes que Não Sim Talvez

sábado, 7 de julho de 2012

do outro lado do espelho

Ligaste, de madrugada, pelo espelho da rua. Atendi e vi-te através do meu espelho. Estavas diferente e rodeado de pessoas diferentes. Senti medo, mas mal começaste a falar percebi que ainda existias dentro de ti.
Sim, eras tu. E não trazias boas notícias. Perguntei-te quando voltavas. Disseste que não faltava muito, mas que não era para ficar. Tencionavas partir, desta vez, para sempre. "Porquê?", perguntei. "Aí não consigo ser.", respondeste. Já esperava que fosse acontecer, não foi um choque, e percebi o porquê. Estás melhor no outro mundo, do outro lado do espelho. Onde não há limites para se ser. Não há pressão, não há controlo, não há o mal. E, se por acaso o mal invadir o teu espelho, é mais suportável, é equilibrado.
Senti a dor a pesar no meu corpo, a circular pelas minhas veias, a chegar a todos os cantos do meu corpo, a todos os fragmentos de memórias de tu e eu. Chorei. Sorriste. "Anda ver a minha parte preferida da cidade", disseste. "Como?", perguntei. "Através do espelho", respondeste. Com receio, elevei a minha mão e toquei no espelho que me separava de ti. A minha mão ficou do teu lado, noutro mundo. "Mas como?", pensei. Percebeste. Deste-me a mão e puxaste-me para o teu lado, para o outro lado do espelho. Vi o teu mundo, a tua parte preferida da cidade. Senti um alívio, senti sintonia.

terça-feira, 3 de julho de 2012

I need someone to hold me


Enfrentar a realidade, para ela, é mais difícil do que parece. Fica perdida e sem forças para tal. Vive no seu mundo, aquele que ela criou para si. O mundo que é quase perfeito, mas que ainda não atingiu a perfeição. Vagueia nos seus pensamentos, na perfeição que quase alcançou. Mas, quando olha à volta, vem a frustração. Falta alguma coisa, mas o quê? Procura, volta a procurar. O problema é que não sabe do que é que está à procura.


Olha à volta e está tudo vazio. Não sabe o que fazer, por onde ir, o que procurar. Ouve os gritos da mente, mas não está lá ninguém. Pensa. “Salva-me!”, pede. “Faz-me ser uma pessoa melhor que saiba sentir!”, suplica. Mas o vazio não sai, não quer desaparecer. Permanece.


Sente o arrepio, alguém apareceu. Alguém. Mostra-me quem és. Diz-me se és tu aquilo que eu preciso. Diz-me se aquilo que sei é real. O que eu preciso. Diz-me se sabes quem eu sou. Se sabes como sou. Nada sei sobre ti, nada sabes sobre mim. Mas quem és, afinal? E eu, quem sou? Tu és tu, eu sou eu. E tu, quem és? Nada. Nada és. E eu? Nada sou.


Sente-se fraca. Tenta ser a pessoa mais forte do mundo, mas os dias passam e tudo torna-se mais difícil de suportar. É como se algo a impedisse de continuar, avançar para a frente. Uma estranha sensação de incapacidade que a faz fechar-se no seu próprio mundo. Não dá para mais, está prestes a chegar ao limite. O medo, a insegurança. É tudo.


Está presa na escuridão à espera que alguém a salve. O medo e a insegurança apoderam-se da sua alma. Está frágil, prestes a desfazer-se em pequeno fragmentos de nada. Tudo o que lhe resta é esta angústia, esta sensação de que vai sufocar dentro dos seus pensamentos, que vai continuar a cair cada vez mais. Mas, desta vez, já não vai existir nenhum País das Maravilhas.



quarta-feira, 2 de maio de 2012

"O peso e a leveza"

"Em todas as línguas derivadas do latim, a palavra compaixão forma-se com o prefixo "com" e a raiz "passio" que, na sua origem, significa sofrimento. Noutras línguas, como, por exemplo, em checo, em polaco, em alemão, em sueco, a palavra traduz-se por um substantivo formado por um prefixo equivalente seguido da palavra "sentimento" (em checo: sou-cit, em polaco: wspl-czcie (...))
Nas línguas derivadas do latim, a palavra compaixão significa que ninguém pode ficar indiferente ao sofrimento de outrem; ou, de outra maneira: sente-se sempre simpatia por quem sofre. Ter piedade de uma mulher é sermos mais favorecidos do que ela, é inclinarmo-nos, baixarmo-nos até ela.
(...)
Designa um sentimento considerado como de segunda ordem e que não tem grande coisa a ver com o amor. Amar alguém por compaixão é de facto não amar essa pessoa.

Nas línguas em que a palavra compaixão não se forma com a raíz "passio = sofrimento" mas com o substantivo "sentimento", a palavra é empregue mais ou menos no mesmo sentido, mas dificilmente se pode dizer que designa um sentimento mau ou medíocre. (...) Ter compaixão é poder viver com o outro não só a infelicidade mas sentir também todos os seus outros sentimentos: alegria, angústia, felicidade, dor. Esta compaixão (no sentido de soucit e wspolczucie) designa, portanto, a mais alta capacidade de imaginação afectiva, ou seja, a arte da telepatia das emoções. Na hierarquia dos sentimentos, é o sentimento supremo."



Kundera, Milan - A insustentável leveza do ser